7 de dezembro de 2009


ACONCHEGO
Jenário de Fátima


Quero um lugarzinho em que tu possas
Ficar tranqüila, sem preocupação
Onde as minhas, as tuas, as roupas nossas
Espalhadas fiquem todas pelo chão...

E que as horas passem sem que hajam pressas
E que nossas vozes, mais o violão
Se ajuntem as três em longas conversas,
Conversas feitas formato canção.

E que este lugar seja só ternura
E que tenha um gosto de fruta madura,
Daquelas que a gente vai tirar do pé.

E que lembre sempre, sempre a toda hora
Que sou seu senhor e que és a minha senhora,
Que sou eu teu Homem e que és minha mulher.
ACALANTO
Jenário de Fátima


Sonhei um sonho, e neste sonho havia.
Um algo assim de arrolo, de acalanto.
Um algo assim de êxtase e de encanto.
Era um enlevamento o que sentia.

Só que em meu sonho, eu não conseguia,
Saber de onde vinha aquele canto.
Por mais que eu procurasse no entanto,
A voz que o cantava se escondia.

Foi no acordar então que dei por mim.
Quando se sonha alguma coisa assim,
É a mão de Deus que em nos se faz sentir.

E ficou claro que não entendia.
A voz que ouvi era voz de Maria,
Cantarolando pra Jesus dormir.

ABRIGO
Jenário de Fátima



Está chovendo por dias a fio...
A água toma as praças, ruas e quintais.
Na tepidez de um caixote vazio,
Tremelicando eu vejo alguns pardais.

A cena é terna, comovente e rio,
Quando um deles se afasta dos demais
Alçar vôo tenta, mas penso que o frio
Congelou-lhes as asas... E ele volta atrás.

Quantos de nós, humanos nesta hora
Que a fria solidão a alma devora
Estarão na busca de um refúgio amigo?

E feito os pardais, da cena eternecente,
Se resignariam, pura e simplesmente
Se houvesse um abraço pra servir de abrigo.

A SOLIDÃO E SUAS FORMAS
Jenário de Fátima


Cada solidão tem a sua forma.
Até preferem uns, viver sozinhos.
Se isolam em seu canto,seu mundinho
Fazendo disso uma questão de norma.

Porém outros,a solidão deforma.
Não sobrevivem à falta de carinho.
E os passos pouco a pouco,em desalinho
Se perdem, e a vida toda transforma.

Alguns vida se leva,vai levando,
Se chora, mas se rí de vez em quando...
E o tempo vai passando, compassado.

Mas a solidão em seu pior feitio
É quando ou faz calor,ou se faz frio
E existe sempre ali, alguém do lado!

A CURA
Jenário de Fátima


Te leio e durante sua leitura,
Me sinto em um total envolvimento
Que os versos que me dás, são como alento
Uma fuga, ao que minh’alma procura.

E por instantes penso achar a cura,
O arroio, o acalanto, o mimo, o ungüento
Me és como melodia vinda ao vento
E a angústia que me envolve desfigura.

Após ler-te também abro uma linha
Ouso poetar e nesta ousadia
Atesto toda insanidade minha.

Mas, meu verso surpreende alguma vez
E digo a mim mesmo com alegria;
Até parece que a Sílvia quem o fez!


Soneto dedicado à escritora e poetisa Sílvia Schmidt.