26 de novembro de 2009


ADORÁVEL NOITE
Jenário de Fátima


Adoravel noite que me persegue
Me chama, me fascina, me tonteia
Por sobre a lua clara, vem ondeia
E deixa-me em claridade tão entregue..

O brilho do teu olhar me encanta
Dá sempre uma volta, volta e meia
E a Lua, feito o Sol, queima, bronzeia
Minh'alma ora profana ora santa.

O sangue sobe a minha garganta
E o vento bate leve em meus cabelos
E a sede de viver que sinto é tanta.

Que a liberdade me apossa inteira...
E se enrosca por entre meus pêlos
Como o amor é feito pela vez primeira.


Brasília, 28/12/2008
Soneto dedicado à Margôt
DISFARCE
Jenário de Fátima



Quisera amar! Amar perdidamente.
De novo sentir o gosto da paixão.
Ver agitar, pulsar meu coração,
Me embriagar de amor completamente.

Quisera ter de novo tal presente.
Não apenas tolas e simples ilusões,
Destas que trazem as vezes emoções,
Mas logo vão-se aos corações da gente.

Eu já soube um dia o que é gostar assim.
Mas este amor se foi e desertou de mim,
Deixando-me um abismo tão profundo

Que pra escalá-lo alguma coisa invento,
Como isso de dizer a cada momento,
"Te amo", "Te gosto" a quase todo mundo.

COLO
Jenário de Fátima


O choro prolongado da criança
Me acorda. A noite é muito, muito fria.
Lá fora o vento bate, rodopia
Nas frestas da vidraça, que balança.

Aí faço uma viagem na lembrança,
A um tempo, que se noite assim havia,
Mamãe se levantava, me cobria,
Naquela sua forma doce e mansa.

Por que será que um dia nós crescemos?
Por que será que o tempo leva embora,
Momentos de ternura que tivemos?

Divago... Nos cobertores me enrolo.
Que bom!... Pois a criança não mais chora!
Eu só, que fico assim... Querendo colo.

BUSCA INSANA
Jenário de Fátima



Tenho andado muito só nos últimos anos,
Sensibilidade exposta à flor da pele.
Atrás de quem me cuide, quem me zele
Nesta procura inexplicável dos insanos.

Face já cansada por perdas e danos
E pelos vendavais que minha nau impele.
Não me acostumo ao frustrar de planos,
Nem ao sal da lágrima que meu olhar expele.

Mas cada dia é um novo recomeço,
Um trecho a mais somado pelo caminho.
Por cada face... Cada rosto que conheço!

Mais me maltrato... Me questiono... Me definho!
E em cada quarto... Cada cama que amanheço,
Eu vou ficando cada dia mais sozinho!

25 de novembro de 2009


AMORES VIRTUAIS
Jenário de Fátima


Não brinque com amores virtuais
Eles são como todos os amores,
Provocam as mesmas mágoas, mesmas dores
Daqueles que chamamos de normais.

Estes porém machucam ainda mais,
Pois nunca se dividem os cobertores,
Dos beijos não se provam os sabores,
Nem vão-se pelos ímpetos carnais.

Mesmo assim, quando este amor se acaba
Os dias perdem o brilho, a alegria,
Parece que ao redor tudo desaba.

E a solidão ao cúmulo se revela;
Chorar-se um frágil amor que só se havia,
Na fina transparência de uma tela.

24 de novembro de 2009

CARICATURAS
Jenário de Fátima



Quantas noites de sono nós perdemos
Revendo o velho filme, as mesmas cenas,
Lamentando falhas grandes e as pequenas
Lamentando os muitos erros que tivemos.

Dos delitos de amor que cometemos,
A vida vem e nos cobra, duras penas
Nos condenando a máscaras apenas
Caricaturas do que já vivemos.

Mas o que passou, passou e não tem jeito
O amor ficou guardado na saudade
Guardado como um nó, dentro do peito.

E sempre ao resgatá-lo, em seus desterros,
Juramos junto a toda santidade,
De não mais cometer os mesmos erros!
BALANÇO
Jenário de Fátima


Tudo passa, enfim tudo é passageiro.
Passa o tempo e às vezes nem percebemos.
Que as rugas que nos cobrem, que nós temos.
São as provas de que o tempo anda ligeiro.

Vai dezembro, vem ai novo janeiro,
Repetindo a dança d tantos anos.
E de novo o mesclar de tantos planos
Nos confunde em o que fazer primeiro.

Entretanto, quando olhamos lá pra trás.
Ao saber que o que passou não volta mais,
No produto entre o que foi choro ou riso.

Muitas dúvidas ainda permanecem.
Pois os nossos valores sempre crescem
Quando na soma do amor há prejuízo.
À SEXTA, SÓ...
Jenário de Fátima



A sexta-feira à noite me deprime...
Eu podia ir pra balada, coisa assim.
Sair, agitar neste mundão sem fim.
Mas não há nada que me alegre, que me anime.

É que a solidão me tolhe, me deprime.
(E detesto quando tenho dó de mim!)
Apego-me então no garrafão de gim,
E ponho pra rodar Nana Caymmi.

As canções falam de paixões cruentas.
Daquelas que o bom senso desafia
E as horas passam largas... Longas... Lentas...

E o CD roda... Roda e reinicia...
E eu durmo entre as cores pardacentas
Que o efeito da aguardente propicia!

A LAVADEIRA
Jenario de Fátima



E bate... E bate a roupa, a lavadeira.
Por cada peça dão-lhe apenas um Real
E as peças vão formando uma montoeira,
De tons e cores pela corda do varal.

E bate... E bate... E bate uma canseira
De outro dia, tão difícil, tão igual
E as peças vão formando na esteira,
Multinuances d’algum quadro surreal.

E quando lá pelo final do dia,
O assovio de uma triste melodia
Como em milagre o seu peito ainda arranque.

Ela então pensa se há pão pra sua prole,
Nesta hora uma lágrima talvez role
E eleve o nível da água que há no tanque...

TE AMO!
Jenário de Fátima



Quis fazer-te um poema, mas me faltou fala.
Faltou-me a verve assim que se incendeia.
Faltou-me a inspiração que circula na veia,
Quando tudo emudece se bloqueia e cala.

Mas mesmo assim, eu segui na batalha.
Até que me vieram algumas rimas,
E se um neurônio dentro em mim trabalha
Logo se cria, uma emoção, um clima.

Agora, já com tudo encaminhado.
Com o meu verso quase que encaixado
Naquilo que quero,e pretendo e clamo.

Posso dizer assim sem embaraço
Que este rodeio todo que ora faço
É simplesmente pra dizer: te amo!

ÚLTIMOS DIAS
Jenário de Fátima


Uma casinha branca ao pé da serra.
Onde o poente enegrece mais cedo.
Um sabia cantando no arvoredo
E um bezerrinho que distante berra.

E quando o dia a pálpebra descerra
E a lua vem bater nos lajedos
Possa eu sentir pelas pontas dos dedos
Toda energia que emana da terra.

Num canto assim quero findar meus dias.
Tirar da terra meu próprio sustento
E meio as manhas de alvoradas frias

Pelo interior deste simples abrigo.
Bem mais que a neblina que me carrega o vento
Eu tenha quem amo lá dentro comigo.
VIAGEM
Jenário de Fátima


Às vezes nos seguimos por viagem
A qual sonhamos nossa vida inteira.
Curtindo cada ponto da paisagem,
Fazendo tudo louca brincadeira.

Mas eis que de imprevisto à sua margem,
Surge um grande desastre pela beira,
Que fere os olhos ante a dor da imagem
Do carro que rolou na ribanceira.

Aquilo tudo faz perder o brilho.
Ficamos pelo impacto do que vemos
Igual um trem descarrilado ao trilho.

Repete-se no amor a mesma cena...
Depois de algum desastre não sabemos
Se prosseguir viagem vale a pena.

23 de novembro de 2009

TOLO CORAÇÃO
Jenário de Fátima



Ah, meu coração, nunca te emendas?
Porque te iludes sempre em promessas
E ingenuamente te apressas
A esquecer que o amor só traz contendas?

Ah, meu coração, não tire as vendas!
Nem quebre outra vez tantas promessas!
Não deixe que o amor vire as avessas,
Os rumos os quais seguem suas sendas.

Ah, meu coração, você não tem jeito!
Estufa, bate, quer sair do peito,
Descompassando assim tão facilmente.

Depois meu coração só você sabe,
Toda angústia do mundo bem lhe cabe
Quando ficas sozinho novamente.

SAUDADES, AMOR...
Jenário de Fátima


Três da manhã... Tá tão frio... Eu acordo...
Estava sonhando com você, sonho inocente.
Você tão longe, mas te sinto tão presente.
Em cada cena, cada coisa , que recordo.

E fico assim, sem ter nada pra fazer...
Um poema? Mas me falta inspiração
E ali do lado, querendo se oferecer
Calado, quieto, o meu amigo violão.

Mas raciocino... Já é alta madrugada
Tocar agora? Posso acordar os vizinhos
Espero um pouco... Logo vira a alvorada

E junto dela o voar dos passarinhos
Minha saudade então terá forma alada
E como as aves não seremos mais sozinhos...

VENENO
Jenário de Fátima


Se alguém lhe fala mal de outra pessoa
E fala assim, despudoradamente,
A mesma voz que agora a ti ecoa,
Falara também de ti, futuramente.

A palavra que corta, que atordoa,
Como um punhal que, impiedosamente,
Vai dissecando, por motivo a toa,
A carne de uma vítima inocente,

Talvez seja o maior mal da humanidade...
A coisa mais baixa que alguém recorre
Pra ferir outro alguém com crueldade.

Mas a vida por vezes vem puni-la.
Às vezes ela agoniza e até morre,
Pelo mesmo veneno que destila.

SOLIDÃO
Jenário de Fátima


Quando nos sentimos sós pela primeira vez,
Como é uma coisa nova e ainda não sentida,
A solidão não nos parece tão doída
Ao ponto de levar-nos a alguma insensatez.

Porém pelo passar, do oitavo, nono mês
Começa-se aflorar o cerne da ferida.
Se desenvolve a chama e vai tornado a vida,
Apenas um retrato de nossa pequenez.

O tempo então passa, e enquanto passa nós,
Nos acostumando a triste condição de sós,
Deixamo-nos levar e não reagimos mais.

Porém o que mais dói nesta cruel doença,
É quando já bem fraca a cabeça até pensa
Que tristeza e solidão são coisas naturais...

RISO DE MARIA
Jenário de Fátima


Há cerca de dois mil anos somente,
Pelas terras hostis da Palestina.
Uma jovem senhora inda menina
Com ares de ternura tão presente.

Vivia quase que constantemente
(no que lhe reservou sagrada sina)
Por entre as grandes frestas da ravina
Fugindo com seu filho inocente

Mas se houvesse paz, que fosse um dia,
Bem mais que o vento forte nos sargaços,
Um outro som aos ares se estendia,

E flutuava em todos os espaços
Era o encantado riso de Maria
Vendo Jesus nos seus primeiros passos.
FUGA
Jenário de Fátima


Estamos sempre ajuntando pedaços,
De quando arrebentamos nossa cara.
E se uma ferida cicatriza e sara
Desaparecendo até de nossos traços

A insistência que nos leva os passos,
Com queda nova, logo se depara.
E novamente a alma vem e separa
Nossos caquinhos e os amarra em laços.

E nestes laços sempre, sempre deixa,
Um suspiro, uma súplica, uma queixa
E a face marcada de profunda ruga.

Mas deixa mais... Deixa um intenso frio.
Deixa um grande , um enorme vazio
De um belo sonho que partiu em fuga.

22 de novembro de 2009

VOLTA POR CIMA?
Jenário de Fátima


Tropeçar e cair... quebrar a cara...
Ir conhecer como é profundo o poço.
Se encher de mágoas até o pescoço,
Buscar uma luz que não mais se aclara.

A gente as vezes assim se depara,
Neste mundinho o qual chamamos nosso,
Em um momento que nada separa,
Aquilo que é razão, do que é destroço.

Mas dizem: levante, sacuda a poeira
Mostre sua garra ampla, verdadeira
Esqueça o caos, dê a volta por cima.

Mas alguns casos dói infelizmente,
Ver o quanto tudo é bem diferente...
Nem sempre a vida é samba, ou dá rima...
DEVANEIO
Jenário de Fátima


Na fria madrugada uma criança chora.
Numa destas casas aqui da redondeza.
O choro me acorda, mas esta com certeza
Terá quem vir cuidá-la, sem muita demora.

Me ponho a imaginar... E pelo mundo afora?
Nas duras intempéries que a natureza
Vem castigando o mundo com extrema dureza
Quantas e quantas outras estarão lá fora?

Quantas estarão sem pão, sem proteção de um teto
Sem um afagar de mão ou uma voz de afeto,
Sem ter Pai nem Mãe, ao derredor, presente?

Nos devaneios e loucos pensamentos meus.
Por um momento só, quisera eu ser Deus
Só pra acolhe-las todas, em meu quarto quente.
BIJUTERIA
Jenário de Fátima


Às vezes a gente briga por alguém,
Batalha, chora, luta, enfrenta o mundo.
Vai-se do orgulho conhecer o fundo,
Tira-se energia de onde não se tem.

Passam-se limites e vai mais além
Daquilo que alguns chamam resistência,
Sem sequer medir qual a consequência
E sem se avaliar os riscos também.

Até que um dia se vence a batalha!
Porém uma coisa estranha se espalha,
Trazendo à vitória um amargo sabor.

É quando se vê, ali, no dia-a-dia,
Que aquela jóia que tanto luzia,
Era uma pedra falsa, sem nenhum valor!
A DANÇA DO TEMPO
Jenário de Fátima


Era um outro tempo, dentre outras eras.
Via no mundo um fervilhar de cores,
Na boca o gosto doce dos sabores,
No campo o sol bordava primaveras.

Não se existia o tédio das esperas.
Acontecia tudo sem favores.
Por entre os beijos fartos dos amores
O tempo deslizava outras esferas.

Mas aquele tempo foi-se, um outro veio.
Este mais sério, mais sisudo e feio
(Pra velhos o tempo não faz folia...)

Assim eu fico preso nas lembranças
Enquanto no relógio segue as danças
Das horas sonolentas do meu dia.
CERTOS AMORES
Jenário de Fátima


Certos amores nos deixam marcados,
Duras seqüelas, fundas cicatrizes,
Feito dragões no corpo tatuados
Em cores fortes e densas matizes.

E estes dragões podem ser encontrados,
Nos dias tristes, cinzas, infelizes,
Que arrastam-se sempre tão demorados
Nos condenando feito maus juizes.

E pensamos fugir... Mas, fugir pra onde?
Se eles nos seguem sempre aonde vamos?
E mesmo que a mente uma maneira sonde

O coração não faz o que queremos.
E dói-nos inda mais se constatamos,
Pois quando os olhos fecham, mais os vemos!